O governo, seguradoras e organizações privadas em Saúde têm se preocupado com a elevação dos gastos operacionais e com o desenvolvimento de estratégias organizacionais para conter e aperfeiçoar tais despesas. No intuito de enxugar tais custos, a prática da auditoria em saúde vem crescendo cada vez mais, e tornando-se vital dentro das instituições públicas e privadas. Porém, a oferta de profissionais especialistas é escassa, inflando a remuneração desses profissionais com salários que podem chegar.
O cenário econômico mundial vem se tornando, cada vez mais, motivo de grande preocupação, visto que a tendência do mercado globalizado e competitivo é adequar-se a novas alternativas onde possam conter custos e realizar gastos inteligentes. No Brasil este panorama não é diferente, gerando dúvidas em todos os segmentos administrativos e financeiros, refletindo incerteza a vários setores incluindo o setor saúde que cresce intensamente.
Uma das áreas que cresce conjuntamente com a auditoria e fortalece os procedimentos de auditorias internas, realizadas dentro das Organizações em Saúde, é a Gestão da Qualidade e a Implantação dos Processos/Protocolos relacionados à Segurança do Paciente. A implantação de protocolos de segurança do paciente é obrigatória e determinada por legislações vigentes. Atualmente, hospitais que possuem seus processos avaliados e validados por auditorias externas e evidenciam o cumprimento das legislações, ciclos de melhorias e plena gestão de qualidade, são reconhecidos publicamente. O reconhecimento público de qualidade é uma das atividades feitas por auditorias externas, em processos internos das Organizações de Saúde, que conferem a qualificação ou certificação de que o serviço tem credibilidade/ qualidade/ habilidade.
A auditoria teve sua origem na área contábil, cujos fatos e registros datam dos 2.600 anos antes de Cristo. Porém é a partir do século XII depois de Cristo, esta técnica passa a receber o nome de auditoria, constatando-se na Inglaterra o seu maior desenvolvimento com a revolução industrial. Deste modo, com o desenvolvimento econômico para o período em questão e com as demandas de serviços e produtos de áreas assistenciais, a prática da auditoria recebeu novas diretrizes na busca de atender as necessidades das empresas que forneciam tais serviços e produtos, inclusive na área de saúde, e assim aparece pela primeira vez, no trabalho realizado pelo médico George Gray Ward, nos Estados Unidos no ano de 1918. (FRANCO; AKEMI; D´INOCENTO, 2012).
No Brasil, a auditoria em saúde se fortaleceu nos anos de 1970. Até então, de modo incipiente, a atenção era voltada para a avaliação dos aspectos qualitativos da assistência ao paciente. Porém, com as diversas mudanças do cenário político-financeiro do país e com o processo de globalização, houve um aumento expressivo na demanda de pacientes, instituições particulares de saúde e da atuação de empresas operadoras de planos de saúde passaram a fazer parte de uma nova relação que se estabeleceu no Brasil, de clientes e fornecedores. As novas possibilidades de comércio impulsionaram o sistema de saúde brasileiro a buscar novas alternativas para se adaptar ao mercado que se tornava cada vez mais competitivo. (COSTA et al;1998).
Cabe ressaltar, que antes do ano de 1976, as atividades de auditoria com base no então Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) eram realizadas pelos supervisores, por meio de apuração em prontuários de clientes e contas hospitalares, porque nesta época não havia auditoria direta em hospitais. Neste mesmo ano, as contas hospitalares transformam-se em guia de internação hospitalar, ficando as atividades de auditoria estabelecidas como controle formal e técnico. Logo no ano de 1978, foi criada a Coordenadoria de Controle e Avaliação nas capitais e o serviço de Medicina Social nos municípios.
Assim, no ano de 1983, se reconhece o cargo de médico auditor, e a auditoria passa a ser feita nos hospitais. No Brasil, iniciam-se experiências isoladas com auditoria médica, com vista ao fornecimento de informação para decisões administrativas e para o corpo clínico, realizada no hospital de Ipanema, no Rio de Janeiro. Quanto à auditoria na área da enfermagem, surgiu no hospital Universitário de São Paulo como um processo implantando desde 1983, com padrões estabelecidos para sustentar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), e com o mesmo objetivo outros hospitais universitários, implantaram na década de 80 este método avaliativo. (CAMELO et al.;2009).
Logo, no mês de dezembro de 1999, foi criada a Sociedade Brasileira em Enfermeiros Auditores em Saúde (SOBEAS), tendo como finalidade agregar profissionais de todo país, sendo enfermeiros envolvidos e/ ou interessados em auditoria. Assim sendo, em 2001 as atividades desenvolvidas pela enfermeira auditora foram aprovadas pelo Conselho Federal de Enfermagem através da Resolução nº 266/01(vide anexo). Atualmente, é na área privada onde se observa um número maior de enfermeiras auditoras, cujo conhecimento e experiência profissional são particularmente utilizados para a racionalização dos custos envolvidos na prática assistencial, atuando em instituições hospitalares ou em operadoras de planos de saúde. (GODOI et al;2008)
Na atualidade, a auditoria é adotada como uma ferramenta de controle dos custos e de avaliação da qualidade da assistência à saúde. Desde então, tem se ampliado a prática da auditoria em saúde, que é adotada no setor público como uma ferramenta essencial para o controle e regulação da utilização dos serviços de saúde e, na área privada, como um instrumento de controle dos custos da assistência prestada ao paciente.
Mediante esse contexto, é oportuno enfatizar que os registros dos procedimentos em prontuários, estão vinculados à grande parte do pagamento de materiais, medicamentos e procedimentos, principais fontes de lucratividade das instituições hospitalares, e também, são a garantia evidente da assistência realizada. É através do histórico descrito em prontuário, que é possível evidenciarmos a qualidade do serviço prestado em um Organização de Saúde. Assim, o principal meio de obter o recebimento do valor gasto é através das corretas anotações de todos . Contudo, a ausência de registros, nos casos de prontuários manuais, as letras ilegíveis e dados subjetivos, ainda são os principais motivos das glosas de itens do faturamento das contas hospitalares e de vários questionamentos judiciais por parte de familiares e pacientes.
Nota-se que o Gerenciamento de Custos em saúde, ainda é um processo administrativo, que visa à tomada de decisão de gestores em relação a uma eficiente racionalização na alocação de recursos disponíveis e limitados, com o objetivo de alcançar resultados coerentes às necessidades de saúde da clientela e às necessidades/finalidades institucionais. Para tanto, se faz necessário à compreensão de um conjunto de princípios e conhecimentos de análise econômica que viabilizem a escolha de decisões mais convenientes. (ROSA; SANTOS, 2013).
Verifica-se que nos dias de hoje, compete à auditoria a difícil tarefa de manter equiparada a relação custo/benefício da entrega de uma assistência com qualidade e efetividade, ou em outras palavras, oferecer uma assistência de boa qualidade dentro de um custo compatível com os recursos financeiros disponíveis. Diante disto as anotações corretas no prontuário do paciente contribuem para que o processo de atendimento e tratamento venha favorecer a saúde, a qualidade do atendimento e qualidade de vida do usuário. Além disso, afirma-se que os custos hospitalares repercutem na qualidade dos materiais de expediente utilizados no atendimento aos pacientes nas Unidades de Saúde.
Deste modo, os objetivos gerais da auditoria dentro dos serviços de saúde são: garantir a qualidade da assistência prestada, respeito às normas técnicas, éticas e administrativas, previamente estabelecidas, finalidade de “processo educativo que fornece subsídios para a implantação e gerenciamento de uma assistência de qualidade” (PINTO; MELO 2010).
Dentro deste novo modelo de gestão em auditoria hospitalar surge a figura do líder enfermeiro participativo, que, obviamente, tem papel fundamental nesta nova estrutura, pelo acentuado grau de responsabilização na consecução dos resultados. Com isso, a transformação vivenciada no ambiente hospitalar nasce no papel do líder. Ele motiva, incentiva, direciona, delega, conscientiza, mas, tudo isso com o intuito de provocar uma mudança nos paradigmas do passado. Surge dele a possibilidade do impossível, fazendo com que todo o corpo de profissionais acredite e visualize aquela nova condição (MARQUIS; HUSTON, 2010).
Portanto, a auditoria é uma avaliação sistemática da qualidade da assistência verificada através dos registros da equipe multiprofissional no prontuário do paciente e/ou das próprias condições deste. Os clientes são beneficiados com a possibilidade de receber uma assistência de melhor qualidade a partir de um serviço oferecido de maneira mais segura e eficaz. Assim, a equipe multiprofissional, a partir dos dados fornecidos pela auditoria, pode com mais facilidade avaliar aspectos positivos ou negativos da assistência que tem sido oferecida aos clientes. Dessa forma, a auditoria pode ser vista como um processo educativo onde não se busca o responsável pela falha, mas sim se questiona o porquê do resultado adverso. (FERREIRA; BRAGA, 2008).
Tendo feito a revisão do crescimento da atividade de auditoria e sua representatividade dentro do serviço de saúde, precisamos contextualizá-la dentro da gestão da qualidade e sua representatividade para a acreditação em saúde. A gestão da qualidade possui a estrutura com dois grupos de auditorias: Auditorias Internas e Auditorias Clínicas. As auditorias internas são feitas baseadas nos processos administrativos e gerenciais e constituem-se em uma ferramenta de apoio à gestão. As auditorias clínicas são voltadas à avaliação dos processos de gestão de qualidade do cuidado, adesão aos protocolos institucionais, adesão aos fluxos internos de cuidado seguros, qualidade dos registros. Nas auditorias clínicas usam-se estratégias de auditorias prospectivas, retrospectivas, pontuais ou tracer, conforme a necessidade de cada caso.
Referências Bibliográficas:
Norma NBR ISO 9001: 2015. Sistema de Gestão da Qualidade: Requisitos. 3ª ed, 2015.
ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO ONA. Manual das Organizações Prestadoras de Serviços de Saúde. São Paulo. Versão 2018/2022.
ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO ONA. Manual para Qualificação de Serviços. São Paulo. Versão 2020/ 2024. ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO ONA. Curso de Avaliadores. .
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